domingo, 19 de agosto de 2007

LAÇOS DA ETERNIDADE/ 1º CAP.


Espreguicei-me sem abrir os olhos, sentia vontade de dormir mais. Mesmo tomada pelo sono e pela fraqueza, pude perceber que estava muito claro... tão claro que precisei esforçar-me para abrir os olhos. Eles doíam, as pálpebras pareciam inchadas, minha cabeça estava zonza e aquela claridade incomodava-me um pouco. Quando consegui enxergar com nitidez, assustei-me, tive vontade de sair correndo; aquele não era o meu quarto, aquela não era minha cama, não estava na minha casa...Onde estaria? Quem havia me levado para aquele lugar? Tentei lembrar-me dos últimos acontecimentos, mas minha cabeça estava ainda mais zonza. Senti uma forte dor no peito... dor no peito... isso, lembro-me de ter sentido uma forte dor no peito. Mas onde? Quando? Tudo parecia muito confuso, aquilo nunca havia acontecido antes, jamais me sentira tão alocada! Teria batido com a cabeça? Olhei então a minha volta, tentando reconhecer algo que parecesse familiar, algum objeto, algo que ajudasse a clarear meus pensamentos. O quarto era muito bonito, todo branco, com armários embutidos, tudo muito limpo e organizado, poucos móveis: uma poltrona ao lado direito da cama, um criado mudo ao lado esquerdo, sobre o criado mudo um vaso com lindos crisântemos cor de rosa, minha flor preferida e nada mais. Nada pessoal, parecia com um quarto de hospital, diferente, porém, dos que eu havia conhecido. Teria eu tido um mau súbito após aquela dor no peito e estaria em um hospital?
Procurei a campainha para chamar alguém, mas não havia. Por quê eu estaria sozinha? Se estivesse mesmo em um hospital, minha filha e minha mãe estariam comigo, meu marido estaria ali, eles não me deixariam sozinha. Sabiam o quanto me desagradava estar só.
A claridade que antes me perturbava vinha da janela que estava aberta, deixando que os raios de sol viessem dar direto na cama onde eu estava deitada. Foi com grande esforço que consegui sentar-me, sentia-me muito fraca e indisposta - deveria mesmo estar em um hospital - coloquei os pés para fora da cama e com dificuldades fiquei em pé. Apoiando-me na poltrona e nas paredes, consegui chegar até a janela. A vista era linda; muitas árvores floridas, muitas flores e muito verde num pátio imenso, no centro de tudo, um belo chafariz de pedra, com um anjo no meio. Aquela paisagem transmitia uma paz enorme. Estava quase certa de que aquele lugar não era um hospital, e se fosse, não era na minha cidade, pensando bem, parecia mais uma casa de repouso, um hospício quem sabe...Será que havia enlouquecido? Era bem provável, pois estava confusa e lembrava-me de ter tido muitas crises nervosas nos últimos tempos. Estava tudo explicado, era por isso que não havia visitas, elas estavam proibidas, pois eu estava em um hospício. Em meio àquela confusão, não pude deixar de sorrir ao supor que estivesse maluca.
Perdida em minhas confusões mentais e apreciando aquela bela vista, nem percebi que a porta do quarto se abrira e sobressaltei-me ao ouvir aquela voz:
- Ora, ora! Mas vejam só! Nossa paciente está de pé! Como se sente?- era uma enfermeira, uma senhora de meia idade, com a fisionomia muito simpática. Ao perceber que havia me assustado, caminhou ao meu encontro, temendo que eu fosse cair, tentou fazer com que me acalmasse. Não consegui responder a sua pergunta e nem fazer as tantas outras que se confundiam na minha cabeça. Sentia-me totalmente fraca e só consegui apoiar-me nela para que me levasse de volta para a cama.
- Descanse! Vim apenas lhe trazer um remédio e não esperava encontrá-la fora da cama. Desculpe-me se a assustei, na verdade também tomei um susto! Agora deite-
se e tente dormir novamente para que possa recuperar-se logo! Você ainda está muito fraca e tenho certeza de que quando voltar a acordar se sentirá muito melhor. – falou-me carinhosamente. Tomei então a pílula que me deu, sem forças nem para olhar mais para ela, sentindo um peso imenso nas pálpebras, fechei os olhos. Queria ter lhe perguntado tantas coisas, mas não podia, não agora... precisava dormir. Quem sabe quando acordasse pudesse sanar todas as minhas dúvidas, quem sabe me lembraria dos últimos acontecimentos, ou quem sabe tudo aquilo não passasse de um sonho.


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